Pensamentos Kafkianos em cor-de-rosa

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domingo, 23 de maio de 2010

Caixas arquivadas


Hoje faz anos uma antiga amiga. Fomos as melhores amigas durante anos. Como todos as amizades, houve coisas boas, coisas menos boas e coisas más. Por mais que nos chateássemos, acabávamos sempre por resolver a situação e a amizade perseverava. Muitas vezes nem nos lembrávamos porque estávamos chateadas. Outras vezes esgotávamos o assunto e dávamos razão à outra. Numa amizade tem que haver cedências. Ultimamente, cada uma ficava na sua, anuía aos argumentos da outra mais para finalizar a questão do que por outro motivo qualquer. É claro que me lembro de imensas coisas boas mas sempre que penso nela, é automático, lembro-me sempre das suas ausências quando tinha alguém. Inicialmente tolerava, até porque era importante para ela, até que matutei e matutei e arquitectei uma teoria. Da conspiração, claro. Após alguma reflexão cismei que ela só estava disponível para fosse o que fosse, quando ele estava nalgum curso, a viajar, em jantaradas com os amigos e por aí. Mas deixei andar, acho que no início é normal, é a fase da exploração e tal. O certo é que a partir daí as coisas não voltaram bem ao normal e afastámo-nos, embora sem perder o contacto. A surpresa vem depois, passados alguns meses tomamos café e diz-me que comprou casa. Fiquei entusiasmadíssima, sempre quis viver sozinha e o facto dela o ter concretizado, era como se uma de nós conseguisse cumprir o objectivo. Fui ver a casa, dar palpites na decoração e tal como no fim da adolescência, sentarmo-nos na varanda com um cobertor, garrafa de vinho e cigarros (um de cada para cada uma) e ficarmos a conversar até de manha. Beleza! Mais meses, eu mudei de emprego e iniciei-me na aventura de procurar casa para finalmente ir viver sozinha. Não foi tarefa fácil! Não sabia o que queria nem do que gostava, um horror! Fartei-me de ir a bancos, falar com colegas que estavam na mesma situação, até que me lembrei dela. Tinha passado pelo mesmo e o pai é bancário, ouro sobre azul! Tal não é o meu espanto que quando lhe pergunto quanto é que a casa dela custou e quanto é que paga de renda, para eu ter uma ideia para o empréstimo, ela responde que paga o proporcional ao que pediu ao banco. Voltei a reformular a questão, pois estava à espera de resposta chapa 5, do género a casa custou X e pago X de renda. Ainda mais espantada fiquei quando ela me responde o mesmo! Respeito a privacidade de cada um, mas a verdade é que me caiu “muita” mal, entre amigas pensei que não houvesse disso.
Ah, fez este inverno um ano que lhe mandei msg para saber dela. Ainda espero resposta…
É uma amizade guardada na caixa das recordações com tampa fechada e arquivada no escritório.




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