Pensamentos Kafkianos em cor-de-rosa

Pensamentos Kafkianos em cor-de-rosa

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Casamento da P.


Acordei sobressaltada, com o peso da responsabilidade que não poderia programar o telemóvel para mais 9 minutos (especificamente), não podia adormecer, tinha pessoas à minha espera. Eram 05h da manha. O sono era tanto que só me apetecia chorar como uma criança pequena e fazer birra: já não quero ir! Já não vou! Não quero saber! Mas fui. Fiz 6 horas de viagem.
***
E no meio de toda aquele frenesi, com as emoções à flor da pele, um remoinho de borboletas no estômago de cada uma de nós e o “agarra aqui no véu que já me dói o braço” - “olha que só tenho duas mãos, não consigo” - “então larga o copo!” E o “cuidado com o cabelo dela, não pode desmanchar”, “estás a puxar demasiado o véu!” – “não estou nada, cala-te” - “estás sim, estás a magoar-me”. “Tu bebes martini ao pequeno-almoço?”. “Olha a make up, cuidado para não sujar o vestido”. “Merda, vesti as meias ao contrário”. Goood!!! “Vá, tudo outra vez.” “Já tens a coisa emprestada?” – “ Sim.” “E a coisa usada?” - “Sim”. “E a coisa azul?” - “Cala-te, estás a enervar-me.” “Ajuda-a a descer da cadeira”. E estava pronta! E estava serena. E estava linda.
***
Estou em sitio estratégico, para sair sem me fazer notar, caso me apeteça fugir ou simplesmente fumar um cigarro, quando ela passa mesmo ao meu lado, de braço dado com o pai, com um nervosismo tal que se sentia em Lisboa, a controlar a emoção, que devia estar por um fio, mas sem conseguir controlar os lábios, que tremiam e fugiam ligeiramente para o lado esquerdo. Eu não consegui deixar de olhar para ela, até que ela passou e aos poucos foi-se afastando, até só a conseguir ver de costas, lá ao fundo. Saí para fumar um cigarro e senti os meus lábios a fugirem-me para o lado esquerdo, tal como a ela.
***
E já pela madrugada dentro, sentada (mal aguentava os pés e os sapatos), a bater palminhas como as velhas e com um blazer vestido, que algum bêbado deve ter perdido, surge uma pergunta: “Esse casamento?” - perguntou ele por mensagem.
Cheio de emoções. Mas não respondi.

Sem comentários:

Enviar um comentário

pensamentos cor-se-rosa