Pensamentos Kafkianos em cor-de-rosa

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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

As conversas que se ouvem na fila para o Consulado


Cheguei por volta das 7h 45. Um frio de cortar os pulsos. À minha frente um casal novo e novo também nestas andanças. A seguir a mim uma rapariga, a seguir a ela, dois amigos (homens) e depois a fila inteira. 

É inevitável não ouvir as conversas. As certezas de uns, os receios de outros, as ansiedades, tristezas e alegrias de quem parte e de quem fica. Promessas de que tudo irão fazer para levar a cara metade para lá e promessas que num abrir e fechar de olhos estão de regresso a Lisboa. Ouve-se de tudo. 

Funciona também como uma troca de experiências que pode ser útil, pois ficamos sempre a saber "a como é que está o câmbio", quais as taxas em vigor, montantes disponíveis para efectuar transferências, quais os bancos que mais facilitam e outras do género, situações que podem ter mudado desde que regressámos a Portugal.

Na manhã de hoje, os promotores de tal informação eram os dois amigos que já referi. A rapariga que estava a seguir a mim, apesar de não os conhecer, dava constantemente o ar de sua graça com comentários que toda a fila passava bem se não os ouvisse. 

Comentava uma realidade que para mim é de todo desconhecida. Dei por mim a pensar que tínhamos vivências bastante diferentes da mesma cidade e talvez para ajudar a passar o tempo, comecei a pensar em motivos que o pudessem justificar. Pensei de imediato que estaria relacionado com o Município onde ela vivia. Ou com o trabalho que fazia. Quando já estou lançada nos meus pensamentos, o telefone dela toca (quem já esteve numa fila de um Consulado sabe que estamos todos juntinhos e ouve-se tudo, mesmo tudo) e diz que já está na fila. Alguém responde do outro lado e ela dá as coordenadas do seu lugar na fila. Aparece então, uma daquelas pessoas que tratam dos processos dos vistos e enquanto está à procura do processo dela, pergunta-lhe: é a primeira vez que vai? Ao que a mesma responde: Sim. 

Tive vontade de a esbofetear. É por pessoas assim, como ela, que comentam o que não conhecem, comentam por ter ouvido falar de outros (possivelmente com o mesmo grau de conhecimento do que ela) que as outras pessoas fazem uma ideia errada do que também não conhecem. E que na maioria das vezes, infelizmente, não têm oportunidade de constatar por si mesmos. Não têm oportunidade de ter a sua própria opinião. Entristece-me que um grande número de pessoas tenha uma ideia tão errada de Angola. E irrita-me que outras falem mal de um país que ainda não conhecem mas que já as acolheu. 

1 comentário:

  1. estou plenamente de acordo contigo, pois à pessoas que desconhecem realidades e falam de cor pois querem fazer figura e dizem disparates que prejudicam a relidade

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