Pensamentos Kafkianos em cor-de-rosa

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quarta-feira, 9 de março de 2011

2 semanas mais tarde


Cá estou eu na sala das “testemunhas”. Devo admitir que a loiraça me enganou, vendo bem, acho que deve ter perto de 68 anos (mais coisa menos coisa). Mas é gira na mesma. Acho que não deve ter outras botas, voltou a trazer as mesmas. A técnica da instituição mudou de sapatos, hoje calça uns muito parecidos aos meus sapatos de sevilhana (que apenas uso para dançar). O formador, de óculos enormes, está muito compenetrado a escrever no seu moleskine. Imagino que tenha um blog secreto e que esteja a descrever o ambiente da sala de “testemunhas”, tal como eu, ou simplesmente a fazer as contas à vidinha já que toda a gente sabe que trabalha a recibos verdes e que este é o 2º dia que não lhe pagam. Graças a Deus que mudei de sapatos, entre uma audiência e outra, apesar de achar que esse não é o seu motivo principal de escrita. Por outro lado, venho com o cabelo o mais desgrenhado possível, na esperança que o arguido tenha dificuldade em identificar-me num futuro próximo, caso proceda a uma tentativa de represália. A loiraça já entrou para a audiência. Consigo ouvi-la a dizer que não viu nada e não sabe o que está aqui a fazer. Deve ser do microfone. A seguir fui eu. Depois de me obrigarem a jurar que dizia a verdade e toda a verdade (mas qual verdade? Eu não vi nada!), mandaram-me sentar na cadeira das “testemunhas” (e voltamos ao mesmo), que é precisamente a cadeira que se encontra à frente da que o arguido está sentado. Até ouvia a respiração dele, tal era a proximidade. Já o estava a imaginar a puxar-me os cabelos ou a exibir uma arma branca contra o meu pescoço, quando fui dispensada. Afinal, eu não vi nada.

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