Pensamentos Kafkianos em cor-de-rosa

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sábado, 17 de agosto de 2013

Sandra

Não posso precisar há quanto tempo entrou na nossa família mas arriscaria uns 15 ou 16 anos. Entrou pela mão da minha avó. Fizeram-se amigas nos transportes públicos que apanhavam para o trabalho. O mesmo percurso, os mesmos transportes públicos. Todos os dias. Todas as semanas. Todos os meses. Durante anos. A amizade prevaleceu, mesmo depois de a minha avó ter deixado de trabalhar. Durante algum tempo, enquanto a saúde da minha avó permitiu, ambas apanham os mesmos transportes públicos e tomavam o pequeno-almoço juntas. Depois seguiam caminhos diferentes, a Sandra ia trabalhar e a minha avó voltava para casa pois já não podia trabalhar. E foi assim durante muito tempo, até a saúde da minha avó já não o permitir. Mudaram de estratégia, a Sandra começou a visitar a minha avó em casa. Depois de a minha avó falecer, mantivemos a Sandra como se fosse da família. Sei que era assim que a minha avó gostaria. Sei que é assim que a mantemos viva, quer para nós, quer para a Sandra. Gosto da Sandra. Gostamos todos da Sandra. Gostamos da amizade entre as duas. Mas não gostei nada, mesmo nada de a ter visto chorar e dizer que se sente mais amada por outras pessoas, do que pela família que tem em casa.

2 comentários:

  1. Parte-me o coração este tipo de situações. Infelizmente cada vez acontecem com mais frequência. Vejamos a quantidade de idosos que tem aparecido mortos eque ninguém sente a sua falta. Como e que e possível ninguém dar pela falta deles. Ainda um destes dias na CMTV estavam a dar um reportagem sobre os mendigos de Lisboa. Uma das entrevistadas foi uma senhora mendiga que não tinha pernas e já pedia há uma serie de anos. Pelo que percebi vivia sozinha e pedia para matar a fome e pagar os seus gastos. Pensei eu não tem família. Disse passar muito frio porque todos os dias ela ia para aquele local pedir, empurrava a sua cadeira de rodas e todos os dias ali estava, fizesse chuva ou sol. Fiquei triste, angustiada, envergonhada, quando ela diz que muitas das vezes um único copo de leite ou um chá eram o suficiente para a manter quente nos dias de Inverno e que nunca nestes anos todos ninguém foi capaz de lho oferecer. No final da conversa fiquei, nem sei que palavra utilizar, arrasada talvez, quando a senhora diz que nem as filhas a ajudam!!!! Tem filhas e não a ajudam??????a senhora vive presa a uma cadeira de rodas! Uma situação idêntica se passa aqui na minha zona. Há cerca de 2 anos que um senhor vem pedir a casa dos meus pais. Muito educado, muito respeitador, há uns tempos desabafou com a minha mãe. O sr. Era casado e divorciou-se. Tem 3 filhos. Um professor, um psicólogo e um jogador de futebol, este ultimo ate e bastante conhecido. O senhor não tem casa. O senhor não tem comida. Sobrevive do que lhe dão. Há uma senhora aqui na zona que o deixa tomar banho de vez em quando. Dorme nas entradas de prédios. Pergunto, como e que aqueles filhos, que estão muito bem na vida, conseguem dormir descansados sabendo que o pai não tem um tecto. Como e que aqueles filhos, nos dias de Inverno, chuvosos e frios, conseguem estar no aconchego do seu lar sabendo que o pai dorme na entrada de um prédio embrulhado em cartões. Nem sempre os pais são os melhores, mas são os nossos pais, ninguém os vai substituir. A vida e triste.

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    1. É muito triste, é mais do que triste. São situações que me partem o coração e me fazem sentir impotente.

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